terça-feira, julho 13, 2010

Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza*

Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza*


Maria de Cássia Passos Brandão Gonçalves
Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB.
E-mail: macassia@hotmail.com

O tema referente à formação docente tem sido alvo de estudos e discussões no campo das ciências da educação e contemplado nos sistemas e nas políticas públicas educacionais. Os estudos têm demonstrado que para uma melhoria na qualidade de aprendizagem dos alunos é necessária uma formação de qualidade de professores, que os reconheça como agentes inovadores dos processos pedagógicos curriculares e organizacionais capazes de superar o modelo hegemônico técnico-racionalista, que privilegia exclusivamente a atuação do professor em sala de aula. Já os sistemas e as políticas públicas de educação mesmo contemplando a profissionalização do magistério em suas propostas de leis como a LDB de nº. 9.3934/96, o Plano Nacional de Educação e as Normas e Resoluções do CNE, essas não tem sido capazes de romper com as tensões existentes entre as intenções declaradas e as ações efetivas, visto a lógica contábil e economicista impressa a reforma educacional.
Tais políticas têm enfatizado os cursos de formação inicial e continuada com um enfoque pautado nas características históricas de um conhecimento formal, sem levar em conta a especificidade dos contextos em que se educa e a educação como um compromisso político, ético e moral. Não considerando, portanto, o professor, como membro de uma equipe docente, como investigador atento às peculiaridades imprevisíveis do ensino, como participante ativo, cooperativo e reflexivo do Projeto Político Pedagógico da escola. Não considerando ainda, o cenário profissional como espaço primordial para a formação permanente, fundamental na geração de conhecimento, como afirma os estudos de Francisco Imbernón as situações problemáticas que surgem nele não são apenas instrumentais, já que obrigam o profissional da educação, a elaborar e construir o sentido de cada situação.
O estudo desenvolvido por Francisco Imbernón no livro Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza tem como objetivo central discutir a formação de professores no âmbito da profissionalização docente. Contribui, de maneira especial, para o aprofundamento das discussões sobre os processos de formação de professores tendo como ponto de partida a instituição educativa, como conjunto de elementos que intervêm na prática educativa contextualizada, devendo ser o motor da inovação e da profissionalização docente.
Sendo assim, o estudo de Francisco Imbernón ao longo de seus quatorze capítulos discute a possibilidade de construção de uma formação docente profissional que permita o aumento da democracia real e ajude a evitar exclusão social dos educandos, ou seja, o equilíbrio entre as tarefas profissionais e a estrutura de participação social. Valendo-se deste eixo central o autor enfatiza alguns aspectos dentre eles: o conhecimento profissional docente em uma sociedade em mudança, com um alto nível tecnológico e um vertiginoso avanço do conhecimento, mas também uma importante bagagem sociocultural, o que implica em um novo tipo de formação que vá além de uma preparação, disciplinar, curricular; a profissão docente diante os desafios da chamada sociedade globalizada, do conhecimento ou da informação, ressaltando a necessidade de estabelecer um debate sobre a análise das relações de poder e sobre as alternativas de participação na profissão docente; a formação como elemento essencial, mas não único, do desenvolvimento profissional do professor, vez que este se dá por diversos fatores: o salário, a demanda do mercado de trabalho, o clima de trabalho nas escolas em que é exercida, as estruturas hierárquicas, etc.
O estudo desenvolvido pelo autor revela as implicações da formação inicial para a profissão docente e a necessidade dos programas de formação resgatar a memória de certas práticas vividas como aluno ou aluna, a fim de desmistificar os estereótipos e esquemas, que como diz o autor, em alguns casos são difíceis de superar. Aborda ainda, a pesquisa como ferramenta de formação do professor, capaz de ajudá-lo a encontrar respostas para os problemas de ensino, e ressalta, dentre outras características, que mesmo com a formação permanente os professores só mudam suas crenças e atitudes de maneira significativa quando percebem que o novo programa ou a prática que lhes são oferecidos repercutirão na aprendizagem de seus alunos. Discute sobre algumas dificuldades atuais, ou risco de estagnação profissional, apresentando algumas idéias possíveis de alternativas para a superação.
Por fim, o livro apresenta contribuições significativas para o avanço dos desdobramentos das políticas de formação de professores e para uma reflexão sobre os atuais currículos dos programas de formação de professores que tem enfatizando apenas a perspectiva disciplinar, curricular, desconsiderando os projetos individuais dos docentes e coletivos das instituições escolares, como diz o autor sem centrar-se em um trabalho colaborativo para a solução de situações problemáticas da classe ou da escola. Alerta para o fato de que a formação permanente se dá ao longo da vida profissional e que existe um conjunto de fatores que possibilitam ou impedem que o professor progrida em sua vida profissional.
A leitura deste livro me proporcionou uma reflexão sobre os atuais currículos dos Programas de Formação de Professores do Estado da Bahia, que mesmo objetivando a qualificação dos professores da rede de ensino, seja do estado ou do município esses desconsideram os cenários profissionais e constituem uma formação academicamente formal, distante das situações problemáticas vividas individualmente ou no contexto da escola, a exemplo das dificuldades enfrentadas pelos professores do noturno em pensar e elaborar uma proposta de ensino que possa contemplar as especificidades dos alunos jovens e adultos. Como afirmam os estudos nesta área à educação para essas pessoas não se refere apenas a uma questão etária, mas, primordialmente a uma questão de especificidade sócio-cultural. Na elaboração e propostas de formação docente profissional, vale lembrar que todos somos professores, mas os contextos de trabalhos, os níveis e as concepções são diferenciados.



* Resenha do livro de Francisco Imbernón, Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza (São Paulo: Cortez, 2005. 114p).

3 comentários:

  1. Muito legal um livro que traga contribuições e proponha reflexão para a formação docente, visto que, a educação no Brasil está sendo ignorada por nossos governantes e muito mal vista pela sociedade. Rodrigo Schroeder.

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  2. Christiano Dias,

    É realmente muito interessante refletir na formação docente e no futuro da educação no Brasl, tendo em vista que somos verdadeiramente educadores ou futuros educadores.

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